Hipérbole: curva de zero para menos infinito e depois de mais infinito para zero. Hipérbole: curva de zero para menos infinito e depois de mais infinito para zero.

A Singularidade

Matematicamente, há muitas singularidades. Uma singularidade é, por exemplo, o que acontece em situações como a divisão por zero, que resulta indefinida, ou infinito. A singularidade marca um ponto de transição entre dois «domínios», ou dois «mundos», num ponto ou instante.

Na física, este conceito de singularidade também tem aplicação. No espaço, por exemplo, os buracos negros são singularidades. Um buraco negro é um ponto de massa a tender para o infinito, onde tudo colapsa – toda a matéria no horizonte do buraco negro é atraída para o «centro» desse mesmo burado. Não escapa nem a poeira, nem tão pouco a própria luz. Daí a designação de buraco negro, porque se absorve toda a luz não é o próprio buraco visível. Mas para onde vai a matéria absorvida pelo buraco negro? Ninguém saberá ao certo, mas uma das explicações possíveis é que surja noutro universo, ou noutro ponto do espaço-tempo. Ou seja, o buraco é uma singularidade que actua como sumidouro no nosso universo, permitindo a transição imediata para outro universo.

Acredita-se que este conceito de singularidade, tão curioso na matemática e na física, possa também ter aplicação na tecnologia. A singularidade seria então o ponto que marcava a transição de uma sociedade liderada por humanos para uma outra liderada... por máquinas!

Muitos cientistas e pensadores têm já discorrido sobre esta possível singularidade. Mais até do que isso: alguns profetizam que estamos muito próximo do ponto de viragem, ou mesmo «nele», à escala da história do homem.

O homem moderno tem aproximadamente 100 mil anos. Durante séculos a evolução para a sociedade moderna foi relativamente «lenta». A idade da pedra, a do cobre, a do ferro, a idade média, todas se pautaram por uma evolução lenta e demorada. A comunicação era difícil e o tempo necessário para qualquer alteração social de grande escala se media em décadas.

Actualmente, não é bem assim. A sociedade moderna assenta sobre uma rede de comunicação global em que «qualquer coisa» se sabe no mundo inteiro em poucos minutos. Qualquer invenção pode ser divulgada e difundir-se pelo mundo inteiro em poucos meses, ou mesmo dias ou horas. A Internet é simultaneamente um meio de comunicação e uma memória colectiva persistente, de grandíssima escala e potencialidades. É a nossa principal fonte de informação, que moldou hábitos e criou habituação. E, com isso, criou uma inevitável dependência e fragilidade.

Mas a Internet é apenas o culminar de um longo processo. Primeiro os jornais e a rádio, depois, e com mais relevância ainda, a televisão, permitiram e permitem transmitir mensagens, alterar hábitos, manipular massas a uma escala sem precedentes. E a tecnologia permitiu produção e distribuição de bens em grande escala e sustentar essa habituação e dependência. Se há 500 anos os nossos navegadores ficaram surpreendidos ao entrar nos novos mundos de África, Índia, América e Ásia, hoje ninguém se surpreende de chegar a qualquer país do mundo e encontrar os mesmos produtos e bens de consumo – ou mesmo as mesmas «marcas», produzidas nas mesmas fábricas.

Notando que esta alteração tecnológica e social decorreu nuns meros 100 anos, isto representa 0.1 % da história do homem moderno. A singularidade está próxima? A nossa dependência na tecnologia é mais do clara, é indesmentível. Veículos, navios, aviões, electrodomésticos de todo o género e feitio. Mas, mais importante do que isso, computadores que nos ajudam a trabalhar, a decidir, a comunicar, que guardam o nosso dinheiro e velam pela nossa segurança.

Os sistemas informáticos ainda não «decidem» tudo por nós, mas grande parte das decisões já lhes confiamos. Mesmo sem dar por isso. Por exemplo, quando um avião voa controlado por piloto automático, confiamos-lhes até a própria vida. Mas são cada vez mais as decisões que confiamos aos meios automáticos. Aos poucos, vamos delegando nas máquinas não só as tarefas como também o poder de decidirem. Vamo-nos entregando ao seu cuidado. No Japão, por exemplo, a indústria da robótica está a entrar em grande força nos lares de apoio a idosos, sendo estes entregues ao cuidado de assistentes pessoais automáticos. Um passo mais para a singularidade!

É isto mau? Do ponto de vista técnico, a singularidade é «irrelevante» - apenas um marco no desenvolvimento tecnológico. A relevância desse marco, ou em que moldes queremos que ele ocorra, têm de ser decisões do foro político.



Este artigo pode ser reproduzido total ou parcialmente, desde que seja referido o endereço: http://www.tecnociencia.etikweb.com/index.php?article_id=33

Inserido em: 2008-08-20 Última actualização: 2008-10-25

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Comentários



autoria de texto

Olá.
Quem é o autor do texto, "A singularidade"? (quero citá-lo num artigo).
Quais livros indica sobre o assunto?
Que tal vcs colocarem um "Quem somos" no site?
Abs
Wanderley
(Por: Wanderley Carvalho)

[Por: @ 2014-10-05, 10:25 | Responder | Imprimir ]

Re: autoria de texto


Caro Wanderley,

Muito obrigado pela mensagem e sugestão.

Pode citar o autor como sendo Mateus Mendes. A ideia da singularidade tem sido popularizada essencialmente por Ray Kurzweil, sendo este seu livro "The singularity is near" a melhor referência possível sobre o assunto, em minha opinião:
http://www.kurzweilai.net/the-singularity-is-near
Este livro é apaixonante para quem gosta da matéria.

Há também críticos da ideia, como o conhecido Paul Allen:
http://www.technologyreview.com/view/425733/paul-allen-the-singularity-isnt-near/
Abraço aqui do outro lado do mar,

[Por: mm @ 2014-10-07, 07:24 | Responder | Imprimir ]