Boatos

Circulou (e circula ainda) na Internet a "interpretação" do famoso soneto de Camões "Amor é fogo que arde sem se ver":

"Ah! Camões, se vivesses nos dias de hoje,
tomavas uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.

Compravas um computador,
consultavas a Internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!"

Segundo algumas mensagens, a autoria da interpretação é de uma aluna Portuguesa. Noutras versões, a aluna é Brasileira.

Certamente que desde tempos imemoriais que existem os boatos - notícias que correm, sem a devida confirmação. A maior parte delas não tem qualquer fundamento, e quase todas são falsas. Antigamente o boato corria de boca em boca. A transmissão via oral distorcia cada vez mais a mensagem, mas esta circulava devagar. Com o surgimento da Internet, o problema cresceu exponencialmente. Os boatos correm o mundo à velocidade de um e-mail, por isso a sua difusão pode ser muito rápida e abrangente.

A forma mais comum actualmente é a de “lenda urbana”, ou “mito urbano”. As lendas urbanas são pequenas histórias, tal como as lendas antigas, que relatam acontecimentos sensacionalistas ou fabulosos. Mas, enquanto as lendas antigas relatam acontecimentos em tempos longínquos, as lendas urbanas são histórias recentes e adaptadas ao estilo de vida moderno.

A acreditar nas lendas urbanas, há crocodilos nos esgotos das cidades. Há um motor que funciona apenas a água, mas não é comercializado por questões comerciais e políticas. Paul McCartney morreu em 1966 e foi substituído por um sósia. O homem nunca foi à lua.

Mas a diversidade de boatos que circulam é enorme. Especialmente quem usa e-mail com frequência, já deve ter recebido advertências de todo o tipo. O pior é que uma grande parte dos boatos, além da informação incorrecta, inclui recomendações que podem resultar em prejuízo para quem as ponha em prática ou para terceiros. A consequência menos grave é a perpetuação do próprio boato, como o exemplo “informe os seus amigos”, “passe esta mensagem a pelo menos 10 pessoas”, etc. Desta advertência só por si não vem grande mal ao mundo. Mas a desinformação continua, e contribui para sobrecarregar desnecessariamente as redes. É lixo que circula e nunca mais acaba. Há mensagens que andam a circular há mais de uma década. Mas as consequências podem ser bem mais graves do que o ciber-lixo. Algumas mensagens incluem recomendações que podem ser perigosas se postas em prática, como procedimentos a seguir em caso de acidentes ou ferimentos, ou instruções para “apagar o ficheiro X ou Y do seu computador”.

Geralmente, estas mensagens de boatos são fáceis de identificar. Apresentam argumentos extraordinários, como “o vírus mais perigoso de sempre”, “a solução para a humanidade”, advertências do que “fazer em caso de ataque cardíaco” e afirmações e situações do género. Mas, mais importante do que isso, normalmente não referem fonte alguma, ou referem-na de forma vaga. Por exemplo, “este alerta vem do maior especialista do mundo na área”, ou “o médico X disse que...”. Além disso, quase todos os boatos incluem um pedido para passar a palavra, havendo por vezes até os que predizem consequências terríveis para quem não passar: “se cada pessoa que recebe esta mensagem a passar a 10 pessoas, milhões de vidas podem ser salvas”; “se não passar esta mensagem, arrisca-se a ter sete anos de azar”.

O que fazer quando se recebe um boato por e-mail? Antes de mais, o correcto é confirmar a sua veracidade. Se a mensagem contém afirmações extraordinárias, o mais provável é serem falsas. Não há vírus que apaguem instantânea e irrecuperavelmente o conteúdo do disco rígido; não há empresas a pagar 10 cêntimos por cada mensagem que você envie; não há fantasmas de raparigas louras a andar de táxi; possivelmente todos os pedidos de dadores de sangue e medula óssea são inconsequentes; nada lhe vai acontecer por isso se não passar as mensagens que recebe. Antes de encaminhar uma mensagem dessas, o procedimento correcto é fazer uma pesquisa curta e verificar se há fontes credíveis que a confirmem. Basta pesquisar na Internet pelo título ou uma frase dessa mensagem, e quase sempre se encontra um desmentido. É isso que deve ser feito, contribuindo para reduzir a quantidade de lixo que circula na Internet e melhorar a qualidade e credibilidade desta forma de comunicar.

 



Este artigo pode ser reproduzido total ou parcialmente, desde que seja referido o endereço: http://www.tecnociencia.etikweb.com/Article-49-Boatos.html

Inserido em: 2009-12-21 Última actualização: 2009-12-21

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